Curso Iniciando no Montanhismo-Serra da Bocaina

Como juntar pessoas tão diferentes em uma trilha?

Diante de tamanho problema e de grande desafio, vinha me questionando a muito tempo o que fazer para enfrentar a grande onda, ou avalanche, cada um pode definir a sua maneira, de pessoas que sem conhecimento ou preparo estão indo fazer passeios nos mais diversos locais junto a natureza, seja em parques, áreas particulares, cachoeiras, enfim junto a natureza. Muitos atraídos pelos famosos “Zé Ruela” , atualmente conhecidos como “Quem leva”

Sabemos que a vida na cidade nos trás uma enorme responsabilidade com o trabalho, as despesas de casa, nossos compromissos familiares, nossos estudos, academia, enfim as atividades que não conseguimos deixar de lado em nosso dia a dia (no campo também ocorre a mesma coisa), os médicos atribuem e diagnosticam que tudo isso gera o tal de Estresse, mas que raio é isso? Não vou explicar para não ficar estressado kkkkkkk.

Sou do tempo em que minhas aventuras começaram ainda criança/adolescente, quando meu pai nos levava a praia, Santos era sempre um de nossos destinos ou Piquete, cidade natal de minha mãe. Praia e Montanha, então ficaram constantemente em meu imaginário e desde de sempre pratiquei esportes e tive a oportunidade de visitar lugares com este perfil. Praia começou a ficar insuportável diante do numero de frequentadores e mais recentemente o mesmo vem acontecendo com as montanhas.

Durante todas essas fases da vida, aprendi a reconhecer a importância da preservação e do cuidado com o meio ambiente. Ver ambientes sendo degradados e lixo sendo deixado na areia, plásticos boiando entre as ondas, nas cachoeiras, em beira de estradas rurais e caminhos por onde “ainda” podemos passar, me deixava amargurado e triste. Já não surtia efeito e nem ficava feliz em fazer a minha parte separando materiais descartáveis das embalagens que entravam em casa. Separo e levo absolutamente tudo que é possível e entrego nos pontos de coleta, faço compostagem com os materiais orgânicos. Realizo também recuperação de áreas degradas e no entorno de duas nascentes em uma propriedade rural que adquiri a muitos anos. (veja aqui)


Mas o que isso tudo tem a ver com a pergunta ali em cima?

Simples, tem tudo a ver. Durante este período e mais ainda de alguns anos pra cá quando morei na montanha, próximo ao Pico dos Marins, muitas oportunidades de conhecimento me foram passadas por pessoas que trabalham e estudam diversas áreas do conhecimento. Então fui aprender e me capacitar mais ainda realizando e buscando certificações que volta e meia alguém me cobrava por isso. Fiz então além do Curso de Monitoria Ambiental, que apenas me credenciava a conduzir turistas ao Pico dos Marins, outros cursos surgiram nesta trajetória, me deixando em condições de continuar este trabalho de transmitir conhecimento para que pessoas possam entrar em uma trilha com segurança, de aprender um pouco sobre as historias dos lugares por onde passamos, enfim retribuir e agradecer tudo que outras pessoas me proporcionaram. Hoje coleciono os cursos de Condutor de Turismo de Aventura, Condutor e Guia de Montanha APA Federal Serra da Mantiqueira e de Guia de Turismo Regional São Paulo.

Criei o CIM – Curso Iniciando no Montanhismo que ajudará pessoas a realizar seus passeios de forma segura, planejando suas saidas, utilizando os equipamentos adequados a cada tipo de trilha, de como se comportar em ambientes naturais, o que levar de alimentação, enfim preparar adequadamente as pessoas e de uma forma bem legal já praticando as atividades.

Aproveitando o feriado de aniversario de São Paulo

Proposta divulgada, aproveitamos o feriado de 25 de Janeiro de 2019, para formar mais um grupo, desta vez nosso destino foi o Parque Nacional Serra da Bocaina que reúne ótimas condições para realização e aprendizado de como iniciar e aproveitar melhor os ambientes naturais.

Aproveitando o espaço do nosso veiculo, uma Van Sprinter de 15 lugares, formamos dois grupos distintos, um grupo já experiente com a participação de: Mariane, da cidade de Lorena-SP; Éder e Diego, da cidade de São Paulo-SP, Marcelo e Daniel da cidade de Santo André-SP e Valdemar da cidade de Campinas-SP, que partiram em direção ao Caminho de Mambucaba, mais conhecido como Trilha do Ouro, outro grupo, o dos estreantes, estes participantes do CIM, era formado por: Maria Célia, Débora, Isaac, seus filhos Albert e Mariana, todos de São Paulo-SP. Eu Milton como motorista, guia e instrutor do grupo, juntamente com a Anna micro empresaria de lanches naturais, trilheira e Expert em grupos de whatsapp, que foi fundamental no auxilio das agora “novas trilheiras”

Esta aqui é a nossa Sprinter para transporte dos participantes

Partimos no horário previsto, passava um pouco mais das 23h40min e já estávamos entrando na Rodovia Ayrton Senna ( Rodovia dos Trabalhadores), rumo ao nosso destino, localizado no município de São José do Barreiro-SP, onde fica a sede administrativo e a principal entrada do PNSB – Parque Nacional Serra da Bocaina. Com apenas uma parada para um café e a famosa esticada nas pernas, fomos em seguida buscar a Mariane que estava com dificuldade de conseguir um transporte até o nosso ponto de encontro em Lorena, sem dificuldade por eu já conhecer a cidade, nos encontramos rapidamente próximo a sua residencia e continuamos viagem. Chegamos a portaria do parque por volta das 6h00min. ainda estava escuro, logo em seguida já clareou e os responsáveis da guarda na portaria principal já nos receberam.

Portaria principal do Parque Nacional Serra da Bocaina

Antes de iniciar a nossa caminhada, reunimos todos para a famosa Self do grupo. Juntamos o grupo que seguiria para a Trilha do Ouro e o nosso grupos de estreantes. Como todo grupo tivemos uma pequena falha, pois um integrante havia saído de fininho para ir ao banheiro e ficou fora da foto, sem problema. Fomos todos em seguida fazer a nossa primeira refeição. Para o grupo experiente, todos já previamente alertados, cada um já tinha o seu próprio kit café da manhã conforme eu havia lembrado a eles para trazer pois na portaria no alto da montanha não existe uma lanchonete ou algo parecido. Para o grupo dos iniciantes improvisamos uma mesa em cima da nossa carretinha de transporte e tínhamos a disposição; pão, queijo, leite, sucos de frutas, manteiga, salame, bolachas, banana e maça. Aproveitamos também para preparar e separar o lanche de trilha, que cada integrante levaria em sua mochila de ataque.

Grupo todo reunido antes de cada parte seguir a programação diferenciada.

Nosso primeiro dia

Depois dos grupos separados e cada um seguindo o seu rumo, fiquei com o grupo do CIM – Curso Iniciando no Montanhismo, nossa meta do dia seria atingir o topo do Pico do Tira Chapéu, com 2.088 metros. Realizamos um pequeno deslocamento com nosso veiculo de apoio e após estacionar em uma propriedade particular (sempre com a devida autorização) finalmente começamos a pequena parte de estrada, onde já realizamos o aquecimento andando lentamente.

A trilha é considerada fácil, sem nenhuma dificuldade técnica e nem de navegação, por estar em campo aberto e cruzando pequenos bosques. Mas não se engane, sedentários precisam fazer um treino antes de fazer este percurso pois a trilha pode se tornar problemática para quem tem algum tipo de lesão nos joelhos e articulações ou não possui nenhum preparo físico.

Nossa “mascote” Mariana sentiu um pouco a subida, mais por força da preguiça e falta de costume, do que dificuldade da trilha, mas isso foi superado com o auxilio da nossa amiga Anna e toda sua experiencia em acompanhamento de grupos. Albert o irmão de Mariana, encontrou seu ritmo de trilha e ia sempre a nossa frente e sempre no meu campo de visão. Enquanto seu pai Isaac e as integrantes Maria Célia e Débora, íamos conversando e curtindo a paisagem ao mesmo tempo todos aprendiam um pouco de comportamento em ambientes naturais ou também conhecido como princípios de minimo impacto.

Atingimos o cume do Tira Chapéu com cerca de 3 horas de caminhada, fizemos as fotos e nosso lanche de trilha ali em cima da pedra de onde pudemos avistar toda a Serra da Mantiqueira e seus diversos picos como: Pico dos Marins, Pico do Itaguaré, Capim Amarelo, Pedra da Mina, o planalto de Itatiaia com Morro do Couto, Prateleiras, Pico das Agulhas Negras. Também do alto se avista a Pedra da Macela, mas neste dia a neblina encobria a visão sul do nosso ponto de referência.

Na volta durante a descida, nossa integrante Débora sentiu dores nos pés por causa do desconforto e dureza da bota de montanha e chegando ao final da trilha perto da estrada sentiu também dor no joelho, normal para pessoas que estão estreando a vida outdoor.

Após esta trilha retornamos a entrada do parque para irmos tomar banho e conhecer a Cachoeira de Santo Isidro, mas infelizmente a chuva forte chegou e atrapalhou nosso passeio, o grupo resolver retornar. Também neste momento ao entrar de volta em nosso carro de apoio, o grupo resolveu seguir viagem até a cidade e ficar em uma pousada, desistindo de realizar a estreia em acampamento natural.

Em nosso acampamento haveria uma aula de como fazer sua alimentação utilizando o kit fogareiro e botijão próprios para camping. Essa parte acabou transferida para a cozinha da pousada onde eu preparei um delicioso jantar. Comemos um caprichado Yakisoba de frango.

Segundo dia

Depois de uma merecida noite de sono, arrumamos novamente nossa bagagem na Van e partimos rumo ao nosso segundo objetivo do curso, conhecer a Cachoeira do Bracuí. Antes de ir para estrada uma paradinha na padoca para um café da manhã.

A estrada que liga São José do Barreiro, uma das cidades do Vale Histórico, até Bananal, a famosa rodovia do Tropeiros, assim conhecida por ser justamente aqui nesta sequencia das cidades de Silveiras, Areias, São José do Barreiro, Arapeí e Bananal, todas no estado de São Paulo, que durante o Ciclo do Ouro e depois o Ciclo do Café, circulavam centenas de caravanas de Tropas de Muares que levavam e traziam diversos tipos de mercadoria do porto de Angra dos Reis e Paraty, direto para Minas Gerais e retornavam primeiramente com ouro e depois que o minério foi se acabando, chega o Ciclo do Ouro Verde, o Café. A região é muito rica e cheia de historia vocês precisam conhecer este pedaço do Brasil.

Em função das curvas que são uma constante nesta estrada, nossa amiga Débora teve uma queda de pressão e precisamos parar um pouco. Como o mal estar persistia nos dirigimos ao Hospital do SUS em Bananal, onde ficou constatado que não havia nada, apenas uma leve tontura em função das curvas da estrada. Aproveitamos a parada para conhecer alguns prédios históricos da cidade antes de subir novamente a Serra da Bocaina, agora entraríamos onde é considerado o lado mais “selvagem” do PNSB-Parque Nacional Serra da Bocaina.

Novamente uma estrada estreita, sinuosa e muito, muito inclinada com curvas em formato cotovelo em aclive bem acentuado, deixando alguns com o famoso friozinho na barriga. Bem não tinha outro caminho, queríamos chegar até a Cachoeira do Bracuí e percorremos cerca de 10 km de subida até a virada da Serra, depois uns 8 km, tudo com pouca sinalização, mas que não deixava duvida que o caminho era aquele mesmo. Em uma das poucas bifurcações encontramos varias placas de madeira indicando os nomes das pousadas e atrativos, seguimos então por mais 13 km até chegar ao estacionamento da Pousada Rio Mimoso, onde pagamos um ingresso de Day use por pessoa + a taxa do estacionamento.

Neste local existem 3 trilhas, Cachoeira do Bracuí, Mirante e Rio Formoso, nosso objetivo era fazer primeiro a Cachoeira do Bracuí onde percorremos cerca de 2 a 2,5 km até chegar as 3 primeiras quedas. Podem acreditar a força da água e o tamanho das cachoeiras valem todo o esforço de subir toda a serra e caminhar esta trilha de nível fácil, mas a extensão das quedas está calculado em um total de 1.100 metros, isso mesmo galera, paramos na 3º queda e tem mais um monte pela frente (veja o vídeo aqui), não tenho certeza se é possível descer mais e chegar até lá embaixo, mas até a 4º queda tem sim uma trilha mas não haveria tempo de explorar. Volto lá em breve e com mais tempo, fiquem ligados para quem quiser ir nesta próxima aventura.

Terceiro dia

Após sairmos da Cachoeira de Bracuí, não conseguimos tempo para ir ao Mirante e nem ao Rio Formoso, novamente começou a chover e ainda tínhamos que chegar até ao litoral, nosso destino era a Vila Histórica de Mambucaba, verdadeiro ponto final do Caminho de Mambucaba, mais conhecido como Trilha do Ouro. No retorno paramos para almoçar em um lugar super charmoso o restaurante Chez Bruna por ser tarde não tinha mais almoço, fizemos então algumas fotos e alguns compraram doces caseiros. Na próxima vamos almoçar aqui.

Desci a Serra da Bocaina com muito cuidado e cautela, bem devagar e com a segunda marcha engatada, pois como havia descrito na subida esta estrada aqui não pode relaxar e nem piscar o olho, ela é muito acentuada mesmo.

Chegamos a Vila de Mambucaba ainda no sábado a noite debaixo de uma forte chuva, que durou cerca de 20 minutos e parou, nos hospedamos no Mambucaba Cultura e Arte, um hostel que como o próprio nome já informa é uma mistura de tudo um pouco. No Hostel tem esparramado em caixas, diversos livros infantis, nas paredes quadros e esculturas, ambiente com palco para quem quiser tocar um som, enfim aqui você respira Cultura, Musica e Arte e bom bate papo com o Cagerio que é o proprietário do lugar.

O grupo foi inclusive convidado a participar do Festival de Marchinhas de Mambucaba que acontece dias 8,9 e 10 de Fevereiro. Uma de nossas integrantes não perdeu tempo e criou uma marchinha contando toda a trajetória do grupo nesta viagem. (clique no titulo para ouvir o áudio)

Me diz, me diz
Se você é Nutella ou Raiz
Trilheiro que é Trilheiro
Rala o ano inteiro
Pra subir morro, descer morro
Ai um dia morro, mas morro feliz

Pegamos a Van em Sampa
E com fé em Deus que nos conduz
No caminho para aqui, para ali
E fomos parar até no SUS

Me diz, me diz
Se você é Nutella ou Raiz
Trilheiro que é Trilheiro
Rala o ano inteiro
Pra subir morro, descer morro
Ai um dia morro, mas morro feliz

No caminho rolou conversas mil
Do Kung Fu a Cabala
Trilheiro que é trilheiro não se abala
E ajuda gente que nunca se viu

Me diz, me diz
Se você é Nutella ou Raiz
Trilheiro que é Trilheiro
Rala o ano inteiro
Pra subir morro, descer morro
Ai um dia morro, mas morro feliz

Chegamos a Mambucaba
Praia, Cultura e Arte
Meu Deus que lugar simples e lindo
E o Homem quer ir pra Marte

Me diz, me diz
Se você é Nutella ou Raiz
Trilheiro que é Trilheiro
Rala o ano inteiro
Pra subir morro, descer morro
Ai um dia morro, mas morro feliz

Autoria: Maria Célia dos Santos

O Domingo amanheceu com um super Sol e todos conseguiram curtir a praia. Depois enquanto o pessoal curtia um almoço com churrasco, eu tinha o compromisso de ir buscar a outra parte do grupo que fez o Caminho de Mambucaba, mais conhecido como Trilha do Ouro. No horário combinado estavam todos no ponto de encontro no Sertão de Mambucaba. Grupo reunido partimos de Mambucaba às 15h30min. Nosso retorno foi por Paraty/Cunha e chegamos um pouco tarde em São Paulo por conta de uma peça do carro (mangueira do turbo) ter partido fazendo com que o veiculo perdesse força nas subidas, enfrentamos também um baita congestionamento a cerca de 50 Km de Sampa.

Podemos concluir que foi um grande sucesso este formato de levar grupos diferentes, para trilhas diferentes em um mesmo passeio. Com certeza vamos repetir isso na Pascoa. Sejam todos muito bem vindos aos nossos passeios.

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